SARNA DEMODÉCICA - DESVENDANDO O MITO PASSO A PASSO !

Vejo que muita gente ainda não entendeu bem a demodécica, o que vemos é muita gente vendendo o peixe que lhe venderam, ou seja, me falaram que é genético então a pessoa passa a informação adiante sem se informar ou estudar o assunto de forma séria e sem se basear em fontes confiáveis e estudos sérios a respeito da doença, aqui mesmo no grupo postamos muitos estudos sérios e bem explicados sobre o tema e aconselho que todos os leiam.
Mas vamos relembrar alguns pontos chave sobre a demodécica e tentar entende-la de forma clara.

Primeira coisa a se ter em mente é que o ácaro é um ECTO-PARASITA (ECTO=FORA), então é um parasita externo, então de uma vez por todas não falem nunca mais que o filhote contraiu a sarna no útero na mãe, isso seria impossível.

O que é Demodex canis ou sarna demodécica?
R:O Demodex canis é um artrópode aracnídeo da Família Demodicidae Subclasse
Trombidiforme membro da microbiota cutânea NORMAL dos cães, que causa dermatopatias em algumas situações ESPECIAIS, quando ocorre superpopulação desses ácaros. (Não é uma zoonose, ou seja não é transmitido ao ser humano)

Como saber se meu veterinário deu o diagnóstico correto?
R: Recomenda-se microscopia com objetiva de 10x, para visualização de
todos os estágios evolutivos do parasito e determinação da relação entre ácaros vivos e
mortos, recomenda-se maior atenção ao encontrar 5 ácaros ou mais por campo.
Mesmo em cães assintomáticos, podem ser encontrados alguns ácaros comensais
no material, mas a presença de uma alta proporção de formas imaturas indicará uma
população crescente e, portanto infecção ativa ( Mais importante que encontrar ácaros é notar a proporção de formas imaturas, leitura essa que poucos veterinários fazem, gerando laudos e diagnósticos errados)

O ácaro só existe nos cães afetados pela enfermidade?
R: O D. canis está presente em pequeno número como comensal na pele e nos
condutos auditivos em cerca de 30% a 80% dos cães saudáveis mas apenas alguns
desenvolvem a doença (PARADIS, 2000; GROSS et al., 2005; GUAGUÈRE, 1991).
A mãe geralmente não apresenta sinais clínicos e posteriormente apenas alguns
cães apresentarão sinais à doença, em função da superpopulação parasitária (NUTTING;
DESCH, 1978; HENPF; OLSCHEWSKI; OLSCHEWSKI, 1988),

Por que sempre dizem que é um problema genético?
R: Em cães acometidos, encontram-se uma população de ácaros acima do normal, acreditando-se que isso seja devido a uma predisposição, que causa inibição generalizada dos linfócitos T (SCOTT; FARROW; SCHULTZ, 1974; TIZARD, 2000), de forma que a pele dos cães portadores de demodiciose é ecologicamente favorável à reprodução e crescimento dos parasitos (NAYAK et al., 1998).

Classificações da demodécica, localizada ou generalizada? carater juvenil ou adulto?
R:Em relação às lesões, bem como no curso e no prognóstico da enfermidade, pode
ser classificada como Demodicose Localizada (DL) ou Demodicose Generalizada (DG) e
irá depender das primeiras manifestações clínicas, podendo ser de caráter juvenil ou adulto
(CASWEEL et al. 1995; DESCH et al., 2003; LEITAO; OLIVEIRA, 2003).
A DL é uma afecção de curso benigno e na maioria dos casos auto-limitante, sem
necessidade de tratamento (BARRIGY, 1992). Animais com menos de um ano de idade
são os mais acometidos, sendo as lesões caracterizadas por áreas de alopecia e eritema na
região cefálica e/ou em membros anteriores (BARRIGY, 1992). Já, a DG é considerada
uma das mais severas dermatopatias em cães, sendo as lesões variadas (BARRIGY, 1992).
A doença frequentemente inicia com lesões localizadas que se disseminam com a
evolução da doença e normalmente há áreas de alopecia regional, multifocal ou difusa com
eritema, descamação, pápulas e/ou prurido variável, sendo que a pele acometida pode
apresentar liquenificação, hiperpigmentação, pústulas, erosões crostas e/ou úlceras
decorrentes de piodermatite secundária superficial ou profunda (MEDLEAU; HNILICA,
2003), geralmente está associado com infecção bacteriana secundária (PARADIS, 1999;
MUELLER, 2004).

O cão pode apresentar o problema sem ser afetado genéticamente?
R: SIM! como visto acima, a DL juvenil pode acometer cães saudáveis com menos de 1 ano de idade sem ter ligação nenhuma com sua genética, a proliferação dos ácaros nesse caso se dá apenas pelo fato do cão jovem estar passando por um periodo em que sua imunidade está flutuando e se formando, abrindo assim uma brecha para os agentes oportunistas ataquem e se proliferem, EXATAMENTE COMO OCORRE COM OS CÃES QUE POSSUEM inibição generalizada dos linfócitos T, que ai sim pode ter fundo genético, mas no caso da DL JUVENIL tão logo sua imunidade volte ao normal e se mantenha sem alterações a população de ácaros é controlada e o problema é definitivamente sanado e ponto final. por isso há tanta confusão, ou seja os dois casos são causados pela mesma brecha imunológica, mas os fatores que causaram essa brecha é que são diferentes, sendo um de curso benigno e outro um problema intermitente que pode ser carregado por toda a vida do cão.
(Como dito acima, A DL juvenil é uma afecção de curso benigno e na maioria dos casos auto-limitante, sem necessidade de tratamento.)

Comprei um filhote que apresentou demodécica, o criador tem culpa?
R: Para responder essa pergunta é preciso se fazer outras perguntas abaixo..

Suposição 1: O criador tem seu padreador e sua matriz desde fillhotes e nunca apresentaram um quadro de demodiciose ou dermatopatias, se esses cães tivessem inibição dos linfócitos T e consequentemente sua imunidade alterada devido a uma alteração genética, vivendo em matilha e compartilhando os ácaros como todos os cães do planeta e nunca apresentaram nada, o problema não é genético, portanto o criador não teve culpa, nem má intenção e não fez nada além de te vender um filhote que por vários motivos( troca de ambiente, desmame, stress, vacinação etc etc etc..) teve uma oscilação na imunidade abrindo a brecha imunológica, tão logo seu filhote tenha a imunidade restabelecida tudo voltará ao normal e serão felizes para sempre.

Suposição 2: O criador tem padreador ou matriz, ou os dois cães apresentando demodiciose ou dermatopatias por toda a vida, mesmo após a fase adulta onde a imunidade não deveria mais oscilar salvo exceções: diversas doenças metabólicas ou potencialmente imunossupressoras tem sido associadas a casos de DC generalizada no cão adulto: hiperadrenocorticismo espontâneo ou iatrogênico, hipotiroidismo, diabetes mellitus, neoplasias benignas, leishmaniose, lastomicoses
profundas, pois abrem a mesma brecha imunológica, de qualquer forma em qualquer dessas situações os cães jamais deveriam ser acasalados, portanto o criador tem total responsabilidade nesse caso, principalmente se durante os quadros de demodiciose foi feito raspado e detectado a superpopulação de ácaros e mesmo assim os cães foram acasalados, sendo assim houve má fé e você pode e deve reclamar seus direitos. (importante que sempre ao adquirir um filhote se conheça os pais dos filhotes, note falhas de pelo, descamações, pústulas, feridas, um bom canil preza pela saúde de seus cães e jamais deixaria um cão do seu plantel nessas condições, se não puder conhecer o canil pessoalmente por morar em outro estado, peça contatos de clientes e questione a esses clientes se tiveram problemas, como estão os cães já adultos, com isso você vai economizar futuros aborrecimentos)

Suposição 3: A pessoa que te vendeu não cria, só revende filhotes ou você comprou por impulso numa feira livre de filhotes(açougue de cães), e não sabe nada a respeito dos pais, do canil ou da pessoa que te vendeu.
Muito bem, nesse caso você pagou caro(ou melhor dizendo em 99% desses locais barato) para aprender uma valiosa lição, nunca em hipótese nenhuma se compra cães em feiras, petshop, praças, esquinas ou algo do tipo, uma criação realmente séria vai muito além da venda de filhotes.
Nesse caso reze, pois se nem o revendedor sabe ao certo o que comprou para te vender, creio que ficará difícil resgatar o dinheiro e muito menos pleitear uma ajuda de custo no tratamento do pobre filhote, já que só o que esses açougueiros vêem na frente é um $ e não vidas.

Meu cão tem menos de 1 ano e se encaixa na suposição 1 o que faço?
R:Contate de imediato o criador, criadores sérios tem um veterinário de confiança responsável pela saúde do canil, ele com certeza vai te orientar e cada criador e veterinário tem seu tratamento especifico e cada caso é um caso, cada cão é um cão e precisa ser tratado e medicado como individuo de acordo com a apresentação da demodiciose,pois em alguns casos ela vem acompanhada de quadros fúngicos, bacterianos que também são agentes que se aproveitam da brecha imunológica.
Geralmente banhos a base de Amitraz(deve ser feito por veterinário), ivermectina via oral, se houver fungos e bactérias seu veterinário indicará um antibiótico(geralmente cefalexina) e um fungicida.
Complementos vitamínicos ajudam muito a equilibrar e estabilizar a imunidade( NUTRALÓGIC).
NUNCA MEDIQUE SEU CÃO SEM ACOMPANHAMENTO DE UM VETERINÁRIO!

Considerações finais:
Ainda não se conhece inteiramente a patogenia da demodiciose, mas a idade é fator preponderante sendo que a DL, representa 90% dos casos, acontecendo até os 18 meses de idade). Dos seis aos doze meses ocorre resolução espontânea das lesões.

Estudos sobre as populações de linfócitos envolvidos na DC sugerem uma
responsabilidade dos linfócitos T cito tóxicos ativados por uma irregularidade na função
dos linfócitos T helper. Documentou-se ainda uma diminuição na produção de interleucina (IL-2) e do número de receptores para IL-2 nos linfócitos circulantes.
Estes dados indicam um defeito no processamento e apresentação dos antígenos de D.
canis que conduz a uma resposta inadequada dos linfócitos T helper tipo 1.

Julga-se que este defeito nos linfócitos T específicos para D. canis tem um
componente hereditário de expressão variável. A investigação nesta área permitirá compreender melhor a patogenia e desenvolver novas formas de tratamento, sendo que a criação de modelos biológicos (usando enxertos de pele de cão em ratos de laboratório) parece ser um avanço no estudo da imunopatologia de demodiciose.

Sendo assim, antes de gritarem aos quatro ventos que é 100% um problema genético só por que seu vizinho falou que é, leiam, releiam e entendam que sim, pode ser uma falha genética que causa inibição da imunidade em 10% dos casos, mas que em 90% deles é apenas queda de imunidade normal da idade e de curso benigno.



Fonte: Cristiano - Canilbabypet